As Vindimas
Naquele tempo de criança
Levava um ano a esperar
Sempre naquela esperança
De um dia ir vindimar.
Aos sete Anos, comecei
Junto a minha mãe vindimava
Lembro-me que muito cantei
E toda a gente se alegrava.
Cantava-se o Malmequeres
Até o fado vadio
Entre Homens e Mulheres
Cantava-se ao desafio.
Tal era a alegria
Nas vindimas naturais
Que no meu tempo havia
Hoje não existe mais.
Quando a vindima terminava
Quase que se fazia uma boda
Era o dia da Adiafa
Com aquela gente toda.
Comia se peixe salgado
Junto com batatas cozidas
Um molho de favas guisado
ÀHI que vindimas queridas.
Uns davam carne guisada
Ou torresmos da matança
Quando a vindima terminava
Nos meus tempos de criança.
Muitos Prédios se vindimava
Carregados de uvas boas
Muita gente trabalhava
Mesmo perto das lagoas
Havia grupos que se encontrava
Com mais de cem Pessoas.
Iam vindimar com alegria
Era uma grande diversão
Nesse tempo até se comia
Um cachinho de uvas com pão.
Hoje há poucos vinhais
Perdeu-se essa alegria
Porque já não existe mais
As vinhas como havia.
Pouco a pouco foi terminando
Quase que não deixava rasto
Porque foram arrancando
As vinhas para fazer pasto.
Entre as vinhas destruídas
O que não me esquecerei jamais
HÁ muitas casas construídas
Ate parques industriais.
Ainda essa saudade sinto
Daquele tempo verdadeiro
Hoje é quase tudo vinho tinto
Pouco há de vinho de cheiro.
Tudo na vida se passa
Mas fica na nossa mente
Onde é que está a graça
Que havia antigamente.
As grandes adegas destruíram
Onde se fazia o bom vinho
Até as carroças proibiram
De circular no caminho.
Foi como quem levou um murro
Que não se esquece jamais
Carroças de boi cavalo e burro
Quase que não existe mais.
Eram transportes de estimas
Que muitas uvas transportou
Naquele tempo das vindimas
Tudo isso já se acabou.
Desses versos ninguém troça
E das vindimas em comum
Hoje quem tem uma carroça
Já não é para qualquer um.
Termino o que aqui versei
Das vindimas tenho lembrança
Porque jamais me esquecerei
Dos meus tempos de criança.
João Silvério Sousa
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